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Em Lazarim, mascareiro que se preze faz máscaras com cornos

Encaixada entre montanhas, a vila de Lazarim, em Lamego, vê o sol levantar-se tarde e pôr-se cedo. O frio entranha-se e o fumo das lareiras povoa o teto da localidade de 500 habitantes.

Em Lazarim, mascareiro que se preze faz máscaras com cornos

Por estes dias há uns sons que chegam à rua vindos dos baixos das casas. É um tac-tac-tac-tac-tac constante que traduz o bater do maço no formão no trabalho de transformar um pau de amieiro numa máscara. São mais umas quantas novas que verão a luz do dia nas festas do próximo Entrudo, de 10 a 13 de fevereiro.

“Só eu vou levar 13 novas este ano”, afiança Adão Almeida, que já anda a fazer máscaras desde que terminou a vindima de 2017. José Cabral levará um pouco menos, mas tem gasto os tempos livres na produção de um objeto de culto, cujo valor de venda pode andar “entre os 250 e os 300 euros”. Tudo depende da perfeição. “Quanto mais trabalho der, mais cara é”.

“O dinheiro é importante, claro, mas primeiro está o desfile. Até as podem reservar antes, mas só as levam depois de saírem à rua no Entrudo”, acrescenta Adão, que também já tem o filho, entusiasmado, a seguir-lhe as pisadas nesta arte que já desenvolve há mais de 30 anos. “Eu fazia máscaras com mais gosto quanto era careto. Agora, o que mais me interessa é que o Entrudo não morra aqui”.

O tema é livre, mas mascareiro de Lazarim que se preze faz máscaras com cornos. “São as que mais gosto de fazer porque fazem lembrar o diabo. São as mais engraçadas e as que se vendem melhor”, nota José Cabral, que anda nesta arte há uns 20 anos. Por vezes são adornadas com sardões e outros bichos, mas, “por acaso”, Adão Almeida não fez nenhuma assim para este ano. “Mas as de cornos não faltam”.

“Lazarim é o único local onde o diabo é bonito” brinca Amândio Rua, um entusiasta do Entrudo local, que privilegia as máscaras de madeira ou de renda e os discursos picantes de compadres e comadres.

Foi por causa dos testamentos que outrora houve grandes desentendimentos na aldeia. Amândio Rua conta que durante as décadas de 1930 a 1960 “os padres, o regedor e a GNR punham problemas sérios ao Entrudo afirmando que era uma festa de maledicência e de malvadez”. Também havia quem aproveitasse para ajustar contas. “Tinha uma tia que uma vez saiu de careto só para dar umas porradas no marido, pois em casa não tinha colarinhos para lhas dar”, sorri.

Hoje “já ninguém leva a mal”. Para se elaborarem as quadras dos testamentos rapazes e raparigas “andam o ano todo a vigiar-se mutuamente para depois dizerem no dia do Entrudo os defeitos que lhes detetarem”.

É uma tradição que todos os anos atrai milhares de pessoas, contribuindo para “a preservação dos valores culturais e históricos da vila”, sublinha. A vila e o concelho também começam a tirar alguns dividendos, quer através do negócio das máscaras, quer ao nível da hotelaria, restauração e comércio local.

Em Lazarim, mascareiro que se preze faz máscaras com cornos

O Entrudo de Lazarim não vai ter este ano um custo superior a 15 mil euros. É organizado pela Junta de Freguesia, com o apoio da Câmara Municipal de Lamego. Mas o objetivo do presidente da junta, Paulo Loureiro, é “criar uma associação para tomar conta deste evento”. “Se queremos crescer não podemos ser nós a organizar, apesar de continuarmos a apoiar, pois uma associação pode ter patrocínios que a junta não consegue”, justifica.

Outro objetivo para o futuro é que a feijoada e o caldo de farinha que se come após o desfile de caretos e da leitura dos testamentos passem a ser pagos pelos comensais. “Este ano ainda não vamos cobrar, mas o caminho terá de ser esse. Não digo que se pague como num restaurante, mas terá de haver uma pequena contribuição que nos ajude a suportar o investimento, pois é um esforço enorme”.

Fonte: www.jn.pt

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