Quintas do Douro e Prémio Manuel Coutinho em destaque no Museu de Lamego
O legado material e imaterial das Quintas do Douro foi objeto das mais diversas abordagens ao longo de dois dias. Na segunda edição, as “Conferências do Museu de Lamego/CITCEM” provaram ser mais uma vez um espaço anual de partilha, ao reunirem quinze investigadores que desenvolvem a sua atividade científica em torno da região duriense. Muito participadas, em 2014 as conferências primaram pela palavra do público no final de todos os painéis.
Em comum esteve a afirmação das Quintas enquanto elementos centrais do Douro Património da Humanidade, por onde deverá passar também qualquer estratégia de desenvolvimento, pensando a sua operacionalização em função do turismo.
Organizadas pelo Museu de Lamego, no segundo ano em parceria com o CITCEM – Centro de Investigação Transdisciplinar Cultura, Espaço e Memória da Faculdade de Letras da Universidade do Porto -, as Conferências partem do Douro, como realçou o Diretor do Museu, Luís Sebastian, e é no Douro que tudo é garantido, através de um conjunto de parcerias que possibilitam a sua realização.
Vinho, turismo, enoturismo, história, paisagem, património, internacionalização, desenvolvimento, conservação, foram palavras recorrentes ao longo dos dias 24 e 25 de outubro, atribuídas a um “Território de Inspiração. Região de Oportunidades”, como lhe chamou Celeste Pereira, responsável da Greengrape.
Houve, no entanto, vozes discordantes. Para o jornalista do jornal “Público”, Manuel Carvalho, o Douro não está a saber defender a sua identidade, o que tem de único e o distingue de todas as outras regiões do mundo, apontando falhas à política de comunicação que, defende, não está a usar a “marca Douro” como um ativo do marketing.
As diferentes formas de armação de terreno, a pertinência de digitalizar os arquivos ou as capelas como espaços de afirmação de poder, entre muitos estudos de caso apresentados, foram temas que suscitaram debate e que se revelaram de extrema importância para dinamização do Turismo Cultural.
Assumido como uma das opções estratégicas para a região, necessariamente o Douro tem de possuir uma intensa atividade de investigação científica, que lhe permita suportar, material ou imaterialmente, o conhecimento profundo do território, dos seus imóveis e sítios históricos, das suas tradições.
É por isso um desafio para o Museu de Lamego assumir-se como uma plataforma de divulgação deste conhecimento, disponibilizando-o para a dinamização desse Turismo, promovendo essa partilha de conhecimento e alargando-a, logo de seguida, a todo o Douro, através da publicação online, de acesso livre, das Atas das Conferências.
As “2as Conferências do Museu de Lamego/CITCEM” encerraram com a entrega do Prémio Manuel Coutinho, na sua primeira edição.
PRÉMIO MANUEL COUTINHO ENTREGUE A TRABALHO SOBRE CAMINHOS DE FERRO
“Caminhos de ferro Porto-Salamanca: dinâmicas territoriais no traçado desativado” é o título da dissertação de mestrado, da autoria Jaime Augusto Jesus Cunha, que venceu a primeira edição do Prémio Manuel Coutinho. A iniciativa resulta de uma parceria da Quinta de Mosteirô com o projeto “Vale do Varosa” e a Direção Regional de Cultura Norte (DRCN).
O trabalho vencedor reuniu o consenso do jurí pela qualidade apresentada que, como assinalou Eduardo Coutinho, da Quinta de Mosteirô, prestigia a iniciativa.
O Prémio Manuel Coutinho 2014, que premeia trabalhos académicos na área de História, Arqueologia, Etnologia e Património, relacionados com a Região de Trás-os-Montes e Alto Douro, faz parte das Iniciativas Manuel Coutinho, lançadas pela Quinta de Mosteirô em Outubro de 2012, e que pretendem criar uma plataforma de apoio a ações e projetos de várias índoles que fomentem, direta ou indiretamente, o desenvolvimento cultural e económico da região.
O valor do prémio corresponde a 5% do valor das vendas dos vinhos da marca Pé Posto (produzidos pela Quinta de Mosteirô) no período de 1 de outubro de 2012 a 30 de setembro de 2014. Os vinhos Pé Posto, inspirados em castas históricas, são uma homenagem a Cister, ao Mosteiro de São João de Tarouca e à Quinta de Mosteirô, pelo seu papel histórico na imposição do Douro como região vinícola de qualidade superior.
Durante a sua intervebção, o Diretor do Museu de Lamego, Luís Sebastian, destacou exatamente o papel do vinho Pé Posto na divulgação de São João de Tarouca, não fosse a Quinta de Mosteirô uma das primeiras granjas do Mosteiro, e o facto de cada venda estar a financiar a investigação, em prol do desenvolvimento da região.
De cariz bianual, o Prémio Manuel Coutinho está de regresso em 2016, para a entrega de mais uma distinção.
RESUMO DO TRABALHO VENCEDOR:
“Portugal possui numerosíssimos percursos ferroviários que percorrem regiões de grande valor paisagístico, histórico e cultural. Contudo, várias vias férreas começaram a ser desativadas, contribuindo para a desertificação progressiva em que se encontra o interior do país. A suspensão de diferentes percursos ferroviários deixa a população local desapoiada por não cumprir com a função principal: a mobilidade. Não foram pensadas medidas de desenvolvimento local para compensar a quebra de dinamismo que as desativações trouxeram, estando estas infraestruturas e as regiões a elas associadas a decair a olhos vistos.
O apreço por estes locais riquíssimos que têm sido deixados ao abandono conduzem este estudo que visa identificar as razões que levaram ao encerramento das vias férreas. A degradação destas infraestruturas é irreversível; arruínam-se os acessos locais, extingue-se a vizinhança e a região, sujeita a um confinamento sociocultural, fecha-se sobre si mesma. Esta estagnação acentua-se com o tempo convertendo um local que outrora acolheu muitos num território despovoado. Deve ser reduzida a segregação de um país, de uma comunidade, de uma península, para que as melhorias necessárias ocorram através da definição de uma estratégia que benfeitorize as relações transfronteiriças e evidencie os valores coletivos, o património e a identidade local. Deve ser questionada a situação atual dos troços desativados e de que forma estes podem oferecer apoio às comunidades locais e seu desenvolvimento.
A linha do Douro é um destes percursos que carece de uma merecida atenção não só pelas valências existentes nos lugares que atravessa como também pelos grandes contrastes que as suas paisagens oferecem. As potencialidades subjacentes a estas características possuem relevância suficiente para se tornarem motor de desenvolvimento das regiões interiores. O estudo centra-se no troço desativado entre as estações do Pocinho e Fuente San Esteban, sendo proposta uma intervenção baseada na análise das potencialidades locais adjacentes à linha de caminho de ferro. Esta infraestrutura surge como elemento agregador de um sistema de elementos dinamizadores da região economicamente autónomo, contribuindo para uma perceção global da diversidade existente ao longo do seu traçado que se encontra em extinção”.
Jaime Augusto Jesus Cunha (2012). “Caminhos de ferro Porto-Salamanca: dinâmicas territoriais no traçado desativado”. Dissertação de Mestrado em Arquitetura. Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto.
Fonte: www.museudelamego.pt