Douro vive ano atribulado na vinha devido a mau tempo
O ano no Douro tem sido “atribulado” devido ao tempo húmido, que originou doenças nas videiras como o oídio e míldio, que atacaram algumas zonas da região demarcada e vão provocar alguma quebra na produção de vinho.
As previsões apontam para uma quebra na produção que pode ir dos 10 aos 15% na Região Demarcada do Douro, mas, por estes dias todas as atenções estão concentradas na meteorologia, porque o tempo ainda pode condicionar mais a vindima deste ano.
Carlos Pereira, chefe de divisão de vitivinicultura da Direção Regional de Agricultura e Pescas do Norte (DRAPN), afirmou à agência Lusa que o “ano vitícola no Douro tem sido um pouco atribulado”.
As chuvas da primavera criaram condições para o aparecimento de problemas fitossanitários, a nível do oídio e míldio, doenças que, por causa da continuação do tempo húmido, se desenvolverem, obrigando à realização de “um maior número de tratamentos relativamente ao normal”.
Por exemplo, na região do Baixo Corgo foi necessário proceder à realização de quatro a cinco tratamentos.
A enóloga Gabriela Canossa, da Quinta Maria Izabel, em Armamar, referiu que acabou a fase de tratamentos na vinha e que aguarda agora que a maturação se conclua, frisando que os “próximos 15 dias é que vão ditar tudo”.
A especialista salientou que em termos fitossanitários este “foi um ano muito complicado” devido à chuva e humidades, intercaladas com dias de sol muito quente.
“Fizemos seis tratamentos, coisa que nunca nos tinha acontecido. Aqui a média de tratamentos é de três”, salientou.
Tratamentos que implicam, na sua opinião, “custos brutais” para os produtores.
A quebra de produção no Douro não é, no entanto, apenas motivada por razões fitossanitárias, mas também devido ao desavinho, um acidente fisiológico em que não ocorre a transformação das flores em fruto.
Apesar disso, a chuva trouxe vantagens para as zonas mais secas do Douro, que este ano não vão sofrer com o stress hídrico o que, segundo Carlos Pereira, da DRAPN, se poderá traduzir num “melhor rendimento das uvas”.
O responsável salientou que o comportamento das videiras e das uvas está a ser “muito heterogéneo”, com “muitas diferenças entre as várias regiões” e até mesmo entre cachos nas mesmas videiras, onde se veem bagos maduros e outros ainda em fase de pintor.
Este ano o corte das uvas da casta viosinho começou cerca de 10 dias mais cedo do que no ano passado na Quinta de Ervamoira, da empresa Ramos Pinto.
“Com o calor esperado para este fim de semana eu acho que para a semana provavelmente já vamos começar com alguns tintos”, afirmou a enóloga Teresa Ameztoy.
A responsável referiu que, na sua zona, onde o calor normalmente é extremo, o processo de amadurecimento foi contínuo, sem bloqueios por causa dos calores muito fortes. Este está a ser, na sua opinião, “um ano temperado”.
Também Óscar Quevedo, produtor em São João da Pesqueira, prevê começar a vindima um pouco mais cedo do que no ano passado, referindo que a “maturação das uvas está dentro do normal e até “homogéneo” nesta zona.
Este produtor calcula uma quebra de produção na ordem dos 5% comparativamente com o ano passado.
Quanto à qualidade as expectativas são muito boas na região. “Este ano haverá um bom equilíbrio entre ácidos e açucares e haverá um potencial qualitativo bom”, concluiu Carlos Pereira.
Fonte: www.rtp.pt